sábado, 15 de março de 2008

O Inesquecível Drummond!


Carlos Drummond de Andrade, nasceu em Itabira, no dia 31/10/1902. É considerado um dos principais poetas da literatura brasileira. Além de poesia, fez também livros infantis, contos e crônicas.

Drummond proclama a libertação das palavras, a instituição do verso livre, a libertação do ritmo, foi da corrente mais lírica e subjetiva do modernismo, embora não se possa dizer que ele foi um modernista, mas o primeiro poeta a se afirmar depois das estréias modernistas, pois ele vai além, há um fator de solidão que leva as pessoas a uma atitude livre de qualquer ideologia ou referência.

A poesia dele é atual, mente aberta para o novo, o diferente, as incertezas, as instabilidades da vida presente.


A Palavra Mágica

Certa palavra dorme na sombra
de um livro raro.
Como desencantá-la?
É a senha da vida
a senha do mundo.
Vou procurá-la.

Vou procurá-la a vida inteira
no mundo todo.
Se tarda o encontro, se não a encontro,
não desanimo,
procuro sempre.

Procuro sempre, e minha procura
ficará sendo
minha palavra.


Poesia

Gastei uma hora pensando um verso
que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro
inquieto, vivo.
Ele está cá dentro
e não quer sair.
Mas a poesia deste momento
inunda minha vida inteira.


Amar

Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
e o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.

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